Há pessoas que estão minha vida mesmo sem vê-las.
Conheci no Rio uma galera de Brasília, não me lembro bem como se deu, acho que o elo foi Armando Rolemberg, primo de Lulinha, uma amiga na época.
Brasília ainda estava em construção nos idos dos anos 70, havia muita terra vermelha, muitos candangos a erguer a cidade dos sonhos de Lúcio Costa e Oscar Nyemeier.
A grama da Asa Sul estava verde devia ser verão, tempo das chuvas no Cerrado, lugar perfeito para pensar, cantar, escrever, jogar conversa fora. Em uma dessas tardes conheci Anaise.
Posso dizer que foi um divisor em minha vida, rapidamente nos tornamos amigas. Eu fazia teatro e dança no Rio, ela tinha talento e beleza para as telas e teatro.
Um grupo de jovens estudantes secundaristas, cineastas, candidatos a autores, arquitetetaram o Jornal Tribo, misturando política e cultura, desafiante.
Embarquei nessa onda de cabeça, minhas idas ao Planalto passaram a ser constantes.
Anaise me chamou para ficar em sua casa, havia um quarto grande.
Ao entrar neste quarto me deparei com o seu irmão, me apaixonei.
Nunca desapaxonei.
O rompimento com meu namorado custou a sua amizade, sinto, mas não me arrependo.
A forma que se deu meu encontro com Evandro foi única para mim. Eu ia a Brasília com muita frequência para fechar o Jornal, as horas no ônibus valiam a pena. Era o máximo construir um Jornal com um grupo que parecia não temer a morte, mas não nos esqueciamos da possibilidade.
Namoramos, Evandro veio ao Rio, fomos à pacata São Pedro d' Aldeia rolou um certo encabulamento.
Não me lembro como e os motivos do término do nosso namoro.
Fui visita-lo anos depois, quando morei um tempinho em Brasília. A conversa foi tímida.
Belo dia, o encontro na casa da minha irmã, muitos anos depois, casado com uma PSI do grupo dela.
Moramos muito perto agora, passo diariamente em sua esquina, o vi de longe com um carrinho de feira cheio de laranjas e outras frutas há muito tempo.
A morte nos aproximou, mas ainda não nos vimos.
O amor que aperta, paralisa. Que o tempo corra em nosso favor agora.
Sei que há muito não sinto tamanha angústia com a espera. Espera que vai ter que esperar mais, vou à Salvador, onde minha conquista pela autonomia começou, foi o destino de uma viagem de carona.
É para onde vou.
Salvador sem amor não existe. Do porteiro ao cabo que guarda o forte vejo sorrisos, atenção e carinho, pessoas comuns trabalhando, passando, se divertindo exalando simpatia. Discretos e envergonhados sorriem abertamente, sem pensar em tampar a boca mostram dentes lindos. As mulheres são caso a parte, as jovens e mais velhas são muito agradáveis, não posso dizer o mesmo das de 40 a 55, competem sem se dar conta da bobagem que é.
Espero perambulando, hoje São Paulo, vou dar uma força para uma amiga de verdade. Ambas contam consigo mesmo e amigos para vencer situações difíceis.