sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A pandemia não acabou

A pandemia não acabou.

700 mil mortos.
Milhões deprimidos, isolados!
Não me sinto bem.
Sou incapaz de viver da mesma forma. Apesar de não temer a morte senti se aproximar 2 vezes. 
Não tem nada de romântico. É impotência. Respirar, algo tão natural, para mim é  difícil.
Tento disfarces. Disfarçar o medo de quem não respira é mentira.
 Tenho medo e temo a morte lenta.
Deveria ser proibido extender a doença a título de prolongar a vida.
Tem feito dias lindos, meu ânimo para eles não.


Amor silencioso




Há  pessoas que estão minha vida mesmo sem vê-las.
Conheci no Rio uma galera de Brasília, não me lembro bem como se deu, acho que o elo foi Armando Rolemberg, primo de Lulinha, uma amiga na época.
 Brasília ainda estava em construção nos idos dos anos 70, havia muita terra vermelha, muitos candangos a erguer a cidade dos sonhos de Lúcio Costa e Oscar Nyemeier.
A grama da  Asa Sul estava verde devia ser verão, tempo das chuvas no Cerrado, lugar perfeito para pensar, cantar, escrever, jogar conversa fora. Em uma dessas tardes conheci Anaise.
 Posso dizer que foi um divisor em minha vida, rapidamente nos tornamos amigas. Eu fazia teatro e dança no Rio, ela tinha talento e beleza para as telas e teatro. 
Um grupo de jovens estudantes secundaristas, cineastas, candidatos a autores,  arquitetetaram o Jornal Tribo,  misturando política e cultura, desafiante. 
Embarquei nessa onda de cabeça, minhas idas ao Planalto passaram a ser constantes. 
Anaise me chamou para ficar em sua casa, havia  um quarto grande.
Ao entrar neste quarto me deparei com o seu irmão, me apaixonei.
Nunca desapaxonei. 
O rompimento com meu namorado custou a sua  amizade, sinto, mas não me arrependo. 
A forma que se deu meu encontro com Evandro foi única para mim.  Eu ia a Brasília com muita frequência para fechar o Jornal, as horas no ônibus valiam a pena. Era o máximo construir  um Jornal com um grupo que parecia não temer a morte, mas não nos esqueciamos da  possibilidade.
Namoramos, Evandro veio ao Rio, fomos à pacata São Pedro d' Aldeia rolou um certo encabulamento.
Não me lembro como e os motivos do término do nosso namoro.
Fui visita-lo anos depois, quando morei um tempinho em Brasília. A conversa foi tímida.
Belo dia,  o encontro na casa da minha irmã, muitos anos depois,  casado com uma PSI do grupo dela. 
Moramos muito perto agora,  passo diariamente em sua esquina, o vi de longe com um carrinho de feira cheio de laranjas e outras frutas há muito tempo.
A morte nos aproximou, mas ainda não nos vimos.
O amor que aperta, paralisa. Que o tempo corra em nosso favor agora.
Sei que há muito não sinto tamanha  angústia com a  espera. Espera que vai ter que esperar mais, vou à Salvador, onde minha conquista pela autonomia começou, foi o destino de uma viagem de carona.
É para onde vou.
Salvador sem amor não existe. Do porteiro ao cabo que guarda o forte vejo sorrisos, atenção e carinho, pessoas comuns trabalhando, passando, se divertindo exalando simpatia. Discretos e  envergonhados sorriem abertamente, sem pensar em tampar a boca mostram dentes lindos. As mulheres são caso a parte, as jovens e mais velhas são muito agradáveis, não posso dizer o mesmo das de 40 a 55, competem sem se dar conta da bobagem que é.
Espero perambulando, hoje São Paulo, vou dar uma força para uma amiga de verdade. Ambas contam consigo mesmo e amigos para vencer situações difíceis. 




quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Sono

Como gostaria de dormir um pouquinho mais. Tudo que faço à noite não fica bom. 
Se acordasse um pouco mais tarde faria  meus afazeres com um pouco de alegria.
Onze da manhã me sinto exausta. Hoje consegui a façanha de dormir até às 7:30. Acho que peguei no sono na madrugada. 
Não deixo relógios à mão, cada minuto que não durmo é uma eternidade de longa duração. 
Existe eternidade de pouca duração?
Existe em pencas, consegue contar quantas vezes ouviu isto a respeito de alguém que será imortal? 
Na verdade pouquíssimos não morrem em nossas memórias.
Dormir 8 horas um sonho, um desejo tão longe quanto Madagascar.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Como descobri a tortura

Sonia, minha irmã mais velha e a do meio estudaram no  intenato do colégio Sacrè Coeur du Jésus, me contavam coisa legais como o recreio jogando queimada, as festas internas, os chamados congès (feriados) e reclamavam da comida. Quando foram para o colégio ainda morávamos em Goiânia, em 1962 nos mudamos para o Rio de Janeiro, olhando com os olhos de hoje, não tinha o menor sentido manter a Iza no colégio. 
Quando acabou a minha quarta série pedi para ir para o Colégio achando que ia ser ótimo .
Os dormitórios, no quais dormi, , davam para estrada da Tijuca. 
Estudei no colégio no início 1965 até o meio do ano 1967.
Outro dia ouvindo o relato do Marcelo Rubens  Paiva, caiu a minha ficha. Sempre dormi mal, sou asmática. Naquele lugar frio e úmido, pior ainda.
Escutava gritos  e berros durante a noite, morria de medo. Pensei que eram castigos dados aos meninos do São Bento, internato em frente ao meu. Não podia supor que os gritos eram de militantes e de Rubens Paiva. Ao lembrar daquelas noites horrorosas meu coração treme.

sábado, 27 de abril de 2024

Bolívia por duas meninas

 Não me lembro se tinha 11 ou 12 anos, uma diferença considerável nos degraus da puberdade. Estudava no internato do Sacré Coeur du Jesus, isto mesmo na época a cultura francesa dominava e nos colonizava.  Era très élégant  falar francês. Obviamente não gostava da vida presa. Nada melhor do que um passeio à praça Saens Penha, em uma viagem curtinha de bonde  poderia chegar à Manon, confeitaria deliciosa. Cabe lembrar que estava há semanas sem ir em casa de  castigo por alguma indisciplina tão boba que não me lembro.Voltando à praça, cinemas maravilhosos, muitas lojas de vestidos de noiva, próximas da Escola Normal e do Colégio Militar. Não é  atoa que  era o cenário predileto do Nelson Rodrigues, ambiente de puro conservadorismoMinhas amigas e eu dinheirinho para comer bomba de chocolate, delícia!Enquanto isto as freiras se desesperam e nós voltamos na "santa" paz para o Colégio.Devo confessar que meus dias no colégio pioraram, mais um fim de semana sem ir para casa e sem sobremesa.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

31 de março foi divertido lá em casa

31 de março foi um dia animado lá em casa

Um tal de comprar comida, coisa gostosa, muito feijão, acho que nunca vi tanto feijão lá casa, lata de biscoito Aimoré, leite condensado, chocolate. Mas para que compraram um fogareiro “Jacaré”? Lá em casa tinha fogão. Não era um fogão grande, de seis bocas, mas era bem bom. Para que um fogareiro em plena Copacabana no apartamento? Nunca acampávamos, não fazíamos viagens de aventura? Para que um fogareiro? O pior ninguém me explicava. A resposta era: pode precisar.
O que mais me intrigou naquele dia foram os cochichos, tudo foi feito para eu não ouvir nada. Já que só tinha eu e Maria em casa. Maria era uma irmã de criação, era ligeiramente deficiente, atualmente diríamos border line, não era motivo de preocupação. O problema era comigo. Porque?
Meu pai não largava o telefone, olha que ele detestava ficar conversando muito tempo no telefone. _“Conversa é bom pessoalmente, telefone só pra recado.”
Meu pai gostava de uma prosa e conversar sobre História. Acho que aprendi a gostar de História, ele inha a biografia de vários generais alemães, livros sobre a segunda guerra e me contava histórias da guerra. Pearl Harbor eu aprendi de cor quase.
Mesmo se asma minha mãe falou para eu não ir à escola, pior que não pude  ir à praia para aproveitar o dia, que se não me esqueci, era um dia de sol. Adorava praia. Nadava até o fundo só pra ver o Cristo por trás dos prédios. Nessa época não fazia isso ainda, eu tinha oito anos nesse trinta de março. Fiquei em casa o tempo todo. Isso foi chato.
Minha mãe ocupada em organizar tudo. Ela não pode ser chamada de uma mãe clássica para os padrões dos anos 50 e 60: não sabia costurar, cozinhar, passar nem se fala, abrir lata, até hoje não sabe. Mas é ótima gerente. Lá em casa sempre tinha de tudo,  açúcar cândi no domingo não faltava.
Domingo era ótimo; lasanha com muito molho, uma delícia, Coca cola e chocolate, tinha um bolo de chocolate que só havia lá em casa.
Não éramos uma família tradicional, nessa época meus pais “ficavam”, acho que foram eles que inventaram o ficar. Forma de relacionamento descompromissada da década de noventa. Meu pai morava em Goiânia e nós, as minhas irmãs e eu, aqui no Rio com a minha mãe. Eles dormiam juntos quando ele vinha, aí ficava um tempão sem ele aparecer, quando voltava era a mesma coisa. Julho e dezembro sempre voltavamos a Goiânia: as féria eram sagradas. Eles também dormiam juntos. Isso só foi mudar pouco antes do casamento da Sônia, em 1967, minha irmã mais velha. Eles separaram mesmo.
Minhas irmãs estudavam no Sacrè Coeur de Jésus, lá no alto da Boa Vista. Eu tinha uma certa inveja delas, tinham 180 meninas para brincar, faziam o dava na telha, eu pensava. Era um colégio interno para elite. Naquela época era usual as famílias que queriam uma boa formação colocarem os filhos nos internatos. 
Ouvia sempre essa frase: não se economiza com saúde e educação. São bens maiores. Coerentes com essa proposta, meu pais que moravam nessa época em Goiânia, mandaram as meninas para o Rio, Sônia tinha 14 e a Iza 9. Que maldade... duas garotas criadas na rua 25, brincando na rua, soltas, completamente soltas. Goiânia naquela época era uma cidade pequena, vizinhos se conheciam e entravam sem avisar uns nas casas dos aos outros. As portas só se fechavam à noite.
As ruas eram de pessoas sem medos. Menos eu. Morria medo do Zé Doidim, era muito feio, andava com um saco nas costas, dormia no coreto na Praça do Correio. Tinha medo de ele me pegar. Não gostava nem de olhar a cara dele. Morria de medo. Mas mesmo assim tentava brincar na rua com as crianças mais velhas. Era uma delícia. Até botarem os pequenos pra correr quando completava o time.

1 de abril foi um dia animado lá em casa.

 1 de abril  foi um dia animado lá em casa

Um tal de comprar comida, coisa gostosa, muito feijão, acho que nunca vi tanto feijão lá casa, lata de biscoito Aimoré, leite condensado, chocolate. Mas para que compraram um fogareiro “Jacaré”? Lá em casa tinha fogão. Não era um fogão grande, de seis bocas, mas era bem bom. Para que um fogareiro em plena Copacabana e num apartamento? Nunca acampamos, não fazíamos viagens de aventura? Para que um fogareiro? O pior ninguém me explicava. A resposta era:_ pode precisar.
O que mais me intrigou naquele dia foram os cochichos, tudo foi feito para eu não ouvir nada. Já que só tinha eu e Maria em casa. Maria era uma “irmã de criação”, era ligeiramente deficiente, atualmente diríamos border line , não era motivo de preocupação. O problema era comigo. Porque?
Meu pai então, não largava o telefone, olha que ele detestava ficar conversando muito tempo no telefone. _“Conversa é bom pessoalmente, telefone só pra recado.”
Meu pai gostava de uma prosa e conversar sobre História. Acho que aprendi a gostar de História com ele. Ele tinha a biografia de vários generais alemães, livros sobre a segunda guerra e me contava histórias da guerra. Pearl Harbor eu aprendi de cor quase.
Sem eu estar com asma minha mão falou para eu não ir à escola, pior que não pude nem ir à praia para aproveitar o dia, que se não me esqueci, era um dia de sol. Adorava praia. Nadava até o fundo só pra ver o Cristo por trás dos prédios. Nessa época não fazia isso ainda, eu tinha oito anos nesse trinta de março. Fiquei em casa o tempo todo. Isso foi chato.
Minha mãe ocupada em organizar tudo. Ela não pode ser chamada de uma mãe clássica para os padrões dos anos 50 e 60: não sabia costurar, cozinhar, passar nem se fala, abrir lata, até hoje não sabe. Mas é ótima gerente. Lá em casa sempre tinha de tudo. Tudo muito organizado. Açúcar cândi no domingo sempre tinha.
Domingo era ótimo; lasanha não faltava, com muito molho, uma delícia, Coca cola e chocolate, tinha um bolo de chocolate que só tinha lá em casa.
Não éramos uma família tradicional, nessa época meus pais “ficavam”, acho que foram eles que inventaram o ficar. Forma de relacionamento descompromissada da década de noventa. Meu pai morava em Goiânia e nós, as minhas irmãs e eu, aqui no Rio com a minha mãe. Eles dormiam juntos quando ele vinha, aí ficava um tempão sem ele aparecer, quando voltava era a mesma coisa. Julho e dezembro sempre voltavamos à Goiânia: as féria eram sagradas. Eles também dormiam juntos. Isso só foi mudar pouco antes do casamento da Sônia, em 1967, minha irmã mais velha. Eles separaram mesmo.
Minhas irmãs estudavam no Sacrè Coeur de Jésus, lá no alto da Boa Vista. Eu tinha uma certa inveja delas, tinham 180 meninas para brincar, faziam o dava na telha, eu pensava. Era um colégio interno para elite. Naquela época era usual as famílias que queriam uma boa formação colocarem os filhos nos internatos. Prática considerada atualmente de facista.
Ouvia sempre essa frase: não se economiza com saúde e educação. São bens maiores. Coerentes com essa proposta, meu pais que moravam nessa época em Goiânia, mandaram as meninas para o Rio, Sônia tinha 14 e a Iza 9. Que maldade... duas garotas criadas na rua 25, brincando na rua, soltas, completamente soltas. Goiânia naquela época era uma cidade pequena, vizinhos se conheciam e entravam sem avisar uns nas casas dos aos outros. As portas só se fechavam à noite.
As ruas eram de pessoas sem medos. Menos eu. Morria medo do Zé Doidim, era muito feio, andava com um saco nas costas, dormia no coreto na Praça do Correio. Tinha medo de ele me pegar. Não gostava nem de olhar a cara dele. Morria de medo. Mas mesmo assim tentava brincar na rua com as crianças mais velhas. Era uma delícia. Até botarem os pequenos pra correr quando completava o time.