quinta-feira, 17 de julho de 2025

Gritos

 

  • Gritos 

 Minha irmã mais velha e a do meio estudaram no  internato do colégio Sacrè Coeur du Jésus, me contavam coisas legais como o recreio jogando queimada, as festas internas, os chamados congès (feriados) e reclamavam da comida. Quando foram para o colégio ainda morávamos em Goiânia, em 1962 nos mudamos para o Rio de Janeiro, olhando com os olhos de hoje, não tinha o menor sentido manter a Iza no colégio. 

Quando acabou a minha quarta série pedi para ir para o Colégio achando que ia ser ótimo .

Os dormitórios, no quais dormi, , davam para estrada da Tijuca. 

Estudei no colégio no início 1965 até o meio do ano 1967.

Outro dia ouvindo o relato do Marcelo Rubens  Paiva, caiu a minha ficha. Sempre dormi mal, sou asmática. Naquele lugar frio e úmido, era muito pior.

Escutava gritos  e berros durante a noite, morria de medo. Pensei que eram castigos dados aos meninos do São Bento, internato em frente ao meu.  Não podia supor que os gritos eram de militantes, vindos da delegacia perto da ladeira do colégio.

Paiva foi assasinado em 1971, mas não há encerrar este capítulo da nossa história, a onde está seu corpo?Ao lembrar daquelas noites horrorosas meu coração treme.  

Todas as noites os mesmos gritos. Toda  manhã cansada.Toda noite com asma. Toda noite dormindo quase nada.

Me dei conta há uns anos conversando com uma amiga que  seu irmão estudava no São Bento, pedi para ela perguntar se os beneditinos batiam nos alunos. Os castigos eram semelhantes aos do Sacrè Coeur. Não sei quanto tempo duraram os gritos, fui expulsa do colégio.



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